Já não me lembro bem como foi, sei que sabia mesmo antes de acontecer, que querias saber quem eu era, como era... Aproximaste-te, devagar, num silêncio ensurdecedor que acalmava as minhas ansiedades.
Não havia pressa, nunca houve e não haverá. Penso que nunca a tiveste ou disfarçaste bem, muito bem diria até.
Deitaste-me na cama, lavada, os meus sapatos de salto alto caíram-me dos pés sem os sentir. Desceste e o meu vestido preto ao qual te encostaste numa tentativa de lhe tirar o cheiro, num desejo que ele saísse naquele mesmo instante, ficou entre nós impedindo que os nossos corpos, a nossa pele se sentisse. Estava quente, estavas quente.
Lembro-me de sentir o teu rosto, àspero, nas minhas coxas, cerrei os olhos, apertei os lábios e absorvi aquele incómodo prazer. Foi num ápice que atingiste o meu pescoço e beijaste a minha boca apertada. Tímido, sincero, era ali que queríamos estar...
Senti cada momento, bebi cada beijo, mergulhei no teu cheiro e notei a sintonia que tinha com o meu.
Depois, depois ficava, encostada ao teu peito escutando o teu pulsar, lento, de quem muito viveu. A cada inspiração tua estremecia, em silêncio.
Passado algum tempo, não sei ao certo quanto (perdia-me sempre no tempo), vestias a roupa cuidadosamente deixada na cadeira do canto, e no mesmo silêncio em que me conquistaste, saías.
Eu ficava. Inspirando, encostada aos lençóis, cada gota da essência que ali havias deixado. Vivia tudo novamente em pensamento.
Eu ficava. Esperava, em silêncio, que tudo se repetisse.
E em silêncio fiquei...